Prova do livro de Hertzberger

Prova de aplicação dos conceitos de Lições de Arquitetura na Intervenção da Casa da Glória




Herman Hertzberger é um dos arquitetos holandeses mais famosos, professor emérito e o último arquiteto holandês a receber a prestigiada Royal Gold Medal, sendo ele um dos mais antigos arquitetos holandeses ativos.Em seu livro intitulado “Lições de Arquitetura”, Hertzberger explica alguns conceitos importantes que os futuros arquitetos, até os atuais, devem levar em consideração no momento da concepção do projeto arquitetônico. A análise a seguir tem o intuito de comparar essas conceituações com a intervenção arquitetônica construída pelo grupo – Ana Luisa, Apollo, Bruno, João, Raíssa e Paulo Victor – da Casa da Glória, em Diamantina. O local escolhido foi o primeiro andar do primeiro bloco da Casa (imagens 1, 2 e 3). Os conceitos que serão debatidos estarão demarcados em forma de tópicos.

Forma Convidativa
A intervenção discutida para o local desejado é da realização de uma ambientação (semi)pública conjunta de encontros e desencontros ao apreciar um majestoso café mineiro na parte externa da área, enquanto que na parte interna se instalaria uma exposição ao bem querer de qualquer expositor. A princípio, as pretensões do grupo era de realizar um ambiente onde os usuários do espaço pudessem vivenciar as sensações obtidas na primeira visita ao local. Gradativamente, houveram atualizações e melhorias. Atualmente, o objeto que mais marca uma arquitetura que convida a estar olhando para novos lugares é o caminho de luzes no teto. Como sua segunda funcionalidade, tem o objetivo de instigar o usuário a olhar para a direção da linha, que passa pelos cômodos que não seriam explorados até então. Após passar pela sala, se encaminha ao ambiente externo e, em seguida, ao ambiente interno. Com espaços amplos, a área possibilita conversas espontâneas no meio da sala e principalmente no ambiente de socialização externo. Os bancos são elementos que passam ideia de permanência, se assim o usuário desejar. A articulação, nesse mesmo espaço, como uma expansão da capacidade de uso, é muito evidente pois o expositor tem a liberdade para fazer com que o local possa se adaptar às suas necessidades (em consonância com o conceito de plasticidade). Definindo, portanto, cada elemento no seu devido lugar, as pessoas podem portanto decidir como se portarem diante da exposição com os comandos que a ela já foram explicitados (geralmente as exposições funcionam desta maneira).
Urdidura e trama
Comparados a um mecanismo de tear, os conceitos de urdidura e trama são bastante importantes na concepção arquitetônica. É uma das formas mais diretas de relação com o usuário. A urdidura, como a obra, ou melhor, a intervenção propriamente dita, estabelece um ordenamento básico da configuração espacial, e a trama, os usuários, são agentes que definem o produto final – o espaço habitado. A arquitetura, por sua vez, deveria permitir que os indivíduos se expressassem, possibilitando adaptações individuais. Nessa intervenção, não foi muito recorrente a liberdade dos visitantes de poderem transformar o recinto, principalmente na primeira parte do lugar. Caberia, portanto, aos expositores definirem a configuração do espaço, da área interior, mas nem todos os usuários se sentiriam confortáveis para estar realizando tais mudanças. Estes apenas estariam seguindo os comandos que a exposição dá. Os expositores são detentores do maior poder de organização espacial.
Polivalência, flexibilidade e funcionalidade
Esses três conceitos funcionam de maneira muito simultânea e correlatas. Na maquete em questão, presume-se que a intervenção possibilita qualquer espécie de alteração no ambiente partindo do poder da reorganização do expositor. A sala de exposição (na parte de dentro) permite que o mesmo possa causar qualquer interferência de acordo com sua exposição. O local, na sua essência, provoca no usuário uma necessidade de mudança, e isso é possível graças às prateleiras que estão afixadas nas paredes e aos bancos que se tornam prateleiras também (sendo possível seu deslocamento). No lado externo do ambiente, as cadeiras podem ser locomovidas da maneira que o indivíduo se sentir melhor. Assim, nosso ambiente e seus objetos se tornam polivalentes, ou seja, capazes de mudar suas funcionalidades sem ter suas formas alteradas, e flexíveis ao mesmo tempo, não se tornando fixos no ponto de vista.
Articulação entre o público e o privado
A princípio, ao falar sobre diferenciação e correlação entre espaço público e privado, subentende-se que é um assunto superficial. Mas ao ler o livro, percebe-se que esses conceitos vão além. Alguns pontos que o autor cita nesse contexto são discutidos a seguir. Considera-se, portanto, que o espaço é um local público, uma vez que o café estaria aberto a toda a comunidade de Diamantina e visitantes, porém com elementos privativos dentro dessa esfera. Seu acesso ao local é dada de forma aberta, através do portão de arco do lado da rua; a responsabilidade dos usuários perante o espaço é para que o local continue limpo e organizado, porém na parte expositiva, geralmente o expositor procederia as ações dos usuários de qualquer maneira; a forma de supervisão seria de responsabilidade dos porteiros que ficariam na sala ao lado da exposição e dos balconistas do espaço externo (do café e das mesas); quem irá utilizar essa zona de intervenção é um público bastante amplo, sendo aberto para todos – sem restrição de idade, gênero, etnia, ascensão social e econômica, etc.; e a forma de manutenção se daria com as próprias pessoas que estariam trabalhando no local. Há, contudo, alguns ambientes que se tornam privados e semi-privados, como é o caso das mesas individuais no balcão do café e dos banheiros logo na entrada.
Irregularidades
Sobre irregularidades, a intervenção se adequa de forma aceitável. O objetivo das salas internas é de algum conteúdo expositivo, como já mencionado. Tem-se objetos que possuem usos extrapolados. Um exemplo é a prateleira afixada na parede, que pode servir para deixar objetos a exposição – quando esta estiver armada da maneira correta, pois é uma prateleira flexível que abre e fecha – mas que também pode virar uma mesa – na altura em que as pessoas conseguem se sentarem de maneira confortável. Outro exemplo nítido é o banco central da sala de exposição, que no mesmo instante que pode se tornar um banco baixo, pode subir e se tornar um banco com uma prateleira embaixo.
Gradações de demarcações territoriais
Esse tópico também se torna bastante importante para a rotina de um arquiteto, uma vez que as gradações de demarcações territoriais são acompanhadas pela sensação de acesso. O bloco que foi escolhido para realizar a intervenção, há algum tempo, era um local de uso público se tornando responsabilidade de todos o que o usavam. Com o passar do tempo, se tornou fechado, e com as modificações propostas pelo grupo, o intuito é de transformar esse espaço fechado em um espaço aberto de permanência coletiva, como já mencionado. As formas, materiais, cores e luz podem servir para demarcar o território. O que se sente falta no espaço seria de um material chamativo para o público externo, como por exemplo uma placa em frente ao portão da rua. Assim, utilizaria de um objeto que demarcaria o espaço como sendo de uso prioritariamente público.

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